O Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (DAESP), em vias de extinção, desistiu de oficializar o prolongamento de pista do Aeroporto de Sorocaba Bertram Luiz Leupolz.
Publicado originalmente em 05 de fevereiro de 2022 às 00:01 no Jornal Cruzeiro do Sul. Matéria de Marcel Scinocca.
O Departamento Aeroviário do Estado de São Paulo (DAESP), em vias de extinção, desistiu de oficializar o prolongamento de pista do Aeroporto de Sorocaba Bertram Luiz Leupolz. Com isso, o local segue operando com 1.480 metros de pista, embora tenha construído 1.630 metros. É como que se 150 metros fossem fantasmas, não existissem, uma vez que há restrição de operação. O DAESP disse que a decisão não traz prejuízo para as operações, mas empresários do setor lamentam e pensam de forma contrária.
A reportagem teve acesso a documentos do DAESP enviado à Agência Nacional de Aviação (ANAC), no qual pede para o órgão que desconsidere a mudança de três procedimentos relativos ao aeroporto e que foram solicitados pelo Estado, em 28 de agosto de 2016. O documento retratava a necessidade de ampliação da pista de pouso de 1.480m x 30m para 1.630m x 30m, com distâncias declaradas, mantendo-se as cabeceiras, ampliação da pista de taxiamento e pátio de aeronaves.
Entretanto, após cinco anos, o DAESP apresentou pedido para cancelamento do pedido. Em 24 de janeiro deste ano, em ofício, cujo assunto é “Conclusão de obras Encaminhamento ART”, houve a formalização da desistência de três itens, incluindo alteração de distâncias declaradas. No caso das obras concluídas, o DAESP lembrou que concluiu as obras de infraestrutura da iluminação dos pátios 1 e 2 e a iluminação da sinalização vertical.
Sobre o prolongamento de pista, o DAESP foi questionado com relação ao motivo da desistência e se a ação terá continuidade com a concessão. A entidade disse apenas que “a decisão não prejudica as operações no Aeroporto de Sorocaba, já que opera pelas regras de voo visual”.
A notícia foi recebida com indignação por quem atua no setor. Para o presidente da Associação dos Operadores e Concessionários do Aeroporto de Sorocaba, Fernando Volponi, tecnicamente, a decisão é ruim. “Os 150 metros fazem falta em análises de performance de pouso e decolagem. Uma vez que fisicamente a obra foi feita, é quase inacreditável saber que o administrador não conseguiu finalizar o recadastramento do aeroporto ao longo de quase seis anos. É absurdo, para ser mais honesto”, afirmou.
De acordo com ele, a medida afeta a operação. “Afeta o cliente final operador da aeronave, afeta a revenda de combustível, afeta o movimento das oficinas e centros de manutenção. Menos pista significa que o avião tem que pousar mais leve e/ou decolar mais leve também”, lembrou.
“O DAESP abandonou o nosso aeroporto”, desabafou o empresário Paulo Oliveira, membro da Associação de Proprietários, Permissionários e Operadores de Hangares do Aeroporto de Sorocaba (Aprohapas). “O DAESP não colocou nada para a frente. Não sei se a Voa São Paulo — concessionária que deverá administrar o Aeroporto de Sorocaba — tem obrigação de fazer esse investimento. É muito esquisito a situação do Aeroporto de Sorocaba”, comenta. Segundo ele, a pista do aeroporto tem capacidade para ter 1.900 metros.
Vale lembrar que o prolongamento de 150 metros fez parte de um pacote de obras para o Aeroporto de Sorocaba, com orçamento de R$ 8,27 milhões, anunciado em 2012. Ou seja, tem investimento público que, em tese, não está sendo usado.
Outros dois pedidos do DAESP também tiveram solicitações de cancelamento. Além do prolongamento da pista, o DAESP cancelou a reconfiguração da sinalização luminosa e a realocação do Sistema Indicador de Rampa de Aproximação (PAPI).
Atraso
O contrato de concessão do aeroporto ainda não foi assinado. A Agência de Transporte do Estado de São Paulo (ARTESP) atrasou a entrega de documentos para a assinatura do documento. Conforme o DAESP, o contrato para concessão do aeroporto será assinado nos próximos dias. “Lembrando que o prazo para a entrega dos documentos, pelas empresas vencedoras do leilão, foi prorrogado para o dia 7 de fevereiro, conforme previsto em edital. Sendo assim, não houve atraso”, alegou. (Marcel Scinocca)